Sexta, 26 de Abril de 2024

Justiça. Seja feita a tua vontade

10/10/2015 as 07:50 | | Henri Dias é advogado em Fernandópolis (henri@adv.oabsp.org.br)
Depois de um longo e tenebroso inverno, eis que, finalmente, chegou ao fim um dos capítulos mais longos da justiça fernandopolense. O julgamento do médico Luiz Henrique Semeghini mobilizou a sociedade local e toda a mídia regional, transformando uma tragédia familiar num prato cheio para os curiosos de plantão.

Penso que, independente das opiniões diversas, a justiça se fez, e é isso o que realmente importa. É óbvio que a maior parte dos defensores da vítima e do acusado ficaram insatisfeitos. Os que cerraram fileiras com os familiares da vítima, queriam mais. Os que caminhavam com o acusado, acharam que foi muito. Malgrado isso, o que não se pode discutir é que o caso se finda e começa agora uma nova etapa, onde a defesa tentará modificar o resultado na instância superior, o que eu, particularmente, creio ser muito difícil, pelas peculiaridades do caso.

Outro fato que não pode ser deixado de lado foi o debate intenso promovido pela defesa do médico. Ao longo desses últimos anos, desde que assumiu o caso, Alberto Zacharias Toron deu um exemplo claro de como deve ser a postura de um advogado. Sem querer entrar no mérito da linha de defesa, sempre altivo e seguro de si, Toron não se deixou intimidar pelo fato de defender uma causa praticamente indefensável e lutou com todas as suas forças, usando todas as possibilidades legais permitidas. O único senão seria sua ausência na data anteriormente programada para que o júri fosse realizado, mas, ainda assim, sua atitude foi de uma lealdade extrema, quando informou antecipadamente ao juízo as razões pelas quais não compareceria ao júri. Suas convicções eram plenamente justificadas, embora a contragosto das pessoas leigas, automaticamente convertidas em julgadores de plantão, especialistas que se tornaram de uma hora para outra. Resumidamente, Toron deu uma lição de combatividade e conhecimento das leis, usando todos os artifícios legais na defesa da causa de seu cliente.

Da mesma forma, o juiz responsável pelo caso também cumpriu o seu papel. Vinicius Bufulin exerceu com maestria sua função de julgador e buscou, em todos os momentos, fazer cumprir a lei, sempre defendendo com valentia seus argumentos, alguns deles derrubados, a maioria mantidos na instância superior. Esse embate entre Toron e Bufulin, cada um cumprindo seu papel com lealdade e dedicação, nunca é demais repetir, em muitos momentos, desviou a atenção dos verdadeiros protagonistas da tragédia, mas serviu para revelar a verdadeira face da justiça. A própria manifestação do juiz, quando da leitura da sentença, definiu bem o epílogo desse embate, ao declarar ter sido uma honra participar do julgamento, que teria sido, para ele, “uma verdadeira aula de Direito e postura, tanto da defesa, quanto da acusação”. Comungo do mesmo pensamento, com algumas ressalvas, porém.

É uma pena que, no meio dessa aula, houvesse uma vítima. Pena que, no meio disso tudo, houvesse um réu que, queiram ou não, também foi vítima de sua própria estupidez. Pena que houvesse tanta gente sofrendo, clamando por uma justiça que, mesmo cumprindo seu papel, não trará, de volta para o seu convívio, a Simone que se foi deixando um vazio de dor e de saudade. Apesar disso, rendo-me à Justiça. Seja feita a tua vontade!
MAIS LIDAS
É vedada a transcrição de qualquer material parcial ou integral sem autorização prévia da direção
Entre em contato com a gente: (17) 99715-7260 | sugestões de reportagem e departamento comercial: regiaonoroeste@hotmail.com