Segunda, 29 de Abril de 2024

Atividade física e suas repercussões na saúde física e mental

12/01/2024 as 07:05 | Fernandópolis | André Marcelo de Lima Pereira
Todas as pessoas de qualquer idade devem realizar atividade física. É tipo de comportamento que implica movimentos voluntários do corpo e gasto de energia superior ao nível de repouso, promove interações sociais e com o ambiente, pode ser praticado em qualquer momento, em tempo livre, em deslocamentos, no trabalho ou escola e quando se cumprem tarefas domésticas. A atividade física praticada regularmente reverte-se em inúmeros benefícios à saúde física e mental e melhor qualidade de vida, como controle do peso e maior disposição (Menezes et al., 2021).

As atividades físicas em tempo livre ou de lazer compreendem, dentre outras: correr, dançar, nadar, pedalar, pular corda; jogar futebol, vôlei, tênis, basquete, peteca; praticar ginástica, musculação, hidroginástica, artes marciais, capoeira; participar de brincadeiras e jogos (esconde-esconde, pega-pega, bola queimada). O deslocamento ativo envolve ir de um lugar a outro, caminhar, manejar uma cadeira de rodas, remar, andar a cavalo, de skate ou patinete (sem motor). As atividades relacionadas ao trabalho/estudo se referem a funções como plantar, capinar, colher, varrer, lavar, carregar objetos; participar de aulas de educação física, estudar, brincar em recreio. As tarefas domésticas incluem o cuidado do lar e da família: jardinagem, fazer compras, dar banho nos filhos pequenos (quem os tem), ajudar idoso que demanda cuidados, cuidar de animal de estimação (Brasil, 2021). Essas atividades físicas podem coincidir, mesclar-se, confundir-se, principalmente nas atividades criativas como atividades que se completam. O importante é que integrem a rotina da vida diária de qualquer indivíduo e sejam praticadas com prazer.

As atividades físicas podem ser praticadas com diferentes graus de intensidade, isto é, com graus de esforço físico diferentes. A intensidade se faz sentir no aumento dos batimentos do coração, respiração, gasto de energia e de esforço, identificadas e controladas pelo praticante. Guedes et al. (2001) classificam as atividades diárias em um continuum de nove categorias de acordo com seu custo calórico médio. No extremo, a categoria 1 abriga atividades de menor custo calórico (sono, repouso na cama); no outro extremo, a categoria 9 reúne atividades de maior custo calórico (trabalho manual intenso, esportes competitivos). Guedes et al. (2001) identificam o indivíduo como ativo (>40kcal/kg/dia), moderadamente ativo (37 a 39,9kcal/kg/dia), inativo (33 a 36,9kcal/kg/dia) e muito inativo (<32,9kcal/kg/dia).

É importante estabelecer a diferença entre atividade física e exercício físico. A atividade física se refere a qualquer tipo de movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos com gasto energético, produzidos de maneira intencional (movimentos involuntários, como respirar e fazer o coração bater não contam) e envolve uma relação com a sociedade e o ambiente. O exercício físico é atividade física planejada, estruturada, repetitiva; visa melhorar ou manter o condicionamento ou a aptidão física (condição aeróbica, força, flexibilidade) e os componentes físicos (estrutura muscular, equilíbrio); representa a habilidade de adaptação do corpo às demandas do esforço físico exigido pela atividade, sem levar à completa exaustão ou fadiga excessiva; é geralmente orientado por profissional de educação física. Todo exercício físico é uma atividade física, mas nem toda atividade física é um exercício físico (Brasil, 2021): exercícios físicos têm planejamento, regras definidas e podem combinar com um local próprio para sua prática, como a academia (Silva et al., 2023).

O exercício físico, desenvolvido em média três vezes por semana, com intensidade moderada ou intensa, proporciona benefícios na aptidão física e nas esferas social e psicológica. Atividade física e exercício físico reduzem sintomas de ansiedade e depressão, potencializam a qualidade de vida e melhor desempenho do sujeito (Menezes et al., 2021). A atividade física regular gera benefícios à saúde como um todo (cardiovascular/metabólica em particular), enquanto a inatividade física ou sedentarismo – como o quarto principal fator de risco de morte no mundo - tem baixo consumo energético, impõe restrições às vezes severas à qualidade de vida, contrasta com o estilo de vida ativa e saudável, produz alterações lipídicas e nos níveis pressóricos, diabetes, risco de doença arterial coronariana e outros eventos cardiovasculares (OMS, 2020).

Neves e Silva (2019) destacam que a prática de exercícios físicos se tem tornado uma necessidade para o ser humano, diante da evolução industrial e tecnológica que ampliou o nível de sedentarismo, comprometendo a saúde da população. Nahas (2017) e Menezes et al. (2021) evidenciam que a qualidade de vida está atrelada a um conjunto de ações habituais que refletem as atitudes, as oportunidades na vida das pessoas e os valores que concorrem para seu bem-estar, como controle do estresse, nutrição equilibrada, atividade física regular, cuidados preventivos com a saúde, cultivo de relacionamentos sociais.

No processo de envelhecimento, v.g., a prática de atividade física é hábito saudável relacionado à estimativa da saúde desse segmento etário, funciona como o melhor instrumento de promoção à saúde e previne ou reduz os agravos mais frequentes à saúde (Miranda; Mendes; Silva, 2016). Parte da população idosa preocupa-se em manter-se mais saudável e funcionalmente ativa, com autonomia e independência, capaz de executar atividades da vida diária e empregar habilidades para as interações sociais, de lazer e outros comportamentos do cotidiano. Os idosos são orientados para a prática de atividade física com intensidade moderada (30 minutos, cinco dias por semana) ou com intensidade vigorosa (20 minutos três dias por semana) (Pitanga, 2019; Brasil 2021). A falta de autonomia funcional costuma gerar limitações e resulta na dificuldade de execução das atividades da vida diária e funcionais, o que torna os dependentes do auxílio de outras pessoas até mesmo para a execução de tarefas simples. Nahas (2017, p. 42) exorta que existem fortes evidências de que indivíduos fisicamente ativos têm uma “expectativa ampliada de anos de vida produtiva e independente, e que os custos relativos à saúde pública podem ser sensivelmente menores em populações mais ativas fisicamente”.

Nahas (2017) e Brasil (2021) apresentam três classificações acerca da intensidade das atividades físicas: a) Leve: exige esforço físico mínimo, oferece baixo risco de lesão, tem pequeno aumento da respiração e dos batimentos cardíacos, possibilita conversa e interação entre as pessoas enquanto se movimentam; em uma escala de 0 a 10, a percepção de esforço se estabelece entre 1 e 4, com respiração tranquila; exemplos: passear com cachorro, arrumar a casa; b) Moderada: requer mais esforço físico, respiração mais rápida que a normal, aumento moderado de batimentos do coração, melhor capacidade cardiorrespiratória, auxilia na queima de calorias, demanda preparo físico maior, acompanhamento e orientações de um profissional; pode-se conversar com mais dificuldade enquanto se movimenta; percepção de esforço situada entre 5 e 6; exemplos: trotar, dançar, cuidar do jardim; c) Vigorosa: exige grande esforço físico, respiração aumentada e mais rápida que a normal, aumento dos batimentos cardíacos; não se consegue conversar enquanto se movimenta e necessita de preparo físico; gasto calórico maior, risco de lesão, requer acompanhamento de profissionais da área; percepção de esforço entre 7 e 8; exemplos: efetuar corridas e treinos esportivos como natação.

Embora os manuais de orientação de atividade física para a população brasileira não tragam, uma quarta classificação de intensidade de atividade física pode ser acrescida, a Máxima: exige esforço físico muito alto, não se consegue conversar, foco total centrado na atividade; exemplos: atividades esportivas e treinamento intenso (Menezes et al., 2021). Garcia e Ghorayeb (2014, p. 62) advertem, porém, que, embora se registre benefício cardiovascular da atividade física habitual, o exercício físico de alta (ou máxima) intensidade e de longa duração pode provocar alterações cardíacas agudas e remodelar o coração de atleta; por isso requer rigoroso acompanhamento para verificar o significado clínico destas alterações, pois “eventos cardiovasculares relacionados com o exercício ocorrem predominantemente em indivíduos com doenças subjacentes ocultas, no entanto, o exercício pode ter efeitos deletérios em indivíduos sem alterações cardíacas prévias”.

Garcia e Ghorayeb (2014) admitem existir um limite seguro da atividade física, conjugando quantidade e intensidade, além do qual não existe aumento de benefícios. Atividades físicas como correr, subir escadas, praticar ciclismo, nadar de forma planejada e repetitiva demandam grande quantidade de oxigênio para sua execução e têm no oxigênio a principal fonte de geração de energia, por isso são chamadas de aeróbicas; exigem muito da respiração e trabalham, simultaneamente, grande quantidade de músculos por determinado período, aumentando a frequência cardíaca e a respiração (Brasil, 2021).

Todavia, atividades físicas aeróbicas extenuantes, intensos exercícios por várias horas ao dia e a participação em competições (maratonas, v.g.), às vezes sem orientações ou sem respeitar períodos adequados de descanso, levam a acumular carga de trabalho muito maior do que a recomendada para benefício à saúde: “quando realizado de forma intensa e extenuante, sem o devido preparo físico e supervisão especializada, o exercício pode resultar em situações de risco à saúde e, até mesmo, determinar desfechos fatais em certos casos” (Garcia; Ghorayeb, 2014, p. 62).

Além de melhorar o condicionamento física, a prática regular de atividade física é capaz de prevenir e reduzir a incidência de doenças cardiovasculares, doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) como hipertensão arterial sistêmica e dislipidemias, diabetes mellitus, infarto, acidente vascular encefálico (AVE), fatores de risco e outras doenças. A atividade física traz benefícios significativos à saúde, ao bem-estar e à saúde mental, mas a falta dela tende a induzir, especialmente entre adultos e idosos, a incapacidade funcional como importante causa de morbidade e mortalidade (Pitanga, 2019), sendo fator de risco chave para DCNTs (doenças cardiovasculares, câncer e diabetes). Como doenças múltiplas, em geral de longa duração, demandam acompanhamento multidisciplinar permanente, intervenções contínuas e grandes volumes de recursos materiais e humanos, produzindo encargos ao sistema público e social. No Brasil, respondem por cerca de70% dos gastos assistenciais com a saúde.

A prática de atividade física exerce influência direta na qualidade de vida das pessoas, reduz gastos oficiais com a saúde e representa importante estratégia de políticas públicas como elemento decisivo na promoção da saúde e na qualidade de vida (Borges et al., 2023; UFF, 2021). A prática regular de atividade física possibilita reduzir expressivamente o surgimento das DCNTs cuja prevenção e tratamento se tornaram prioridades em saúde devido ao seu impacto na morbidade e mortalidade e aos custos com assistência médica.

Aproximadamente 80% dos óbitos por DCNT ocorrem em países de baixa e média renda, um terço das quais atinge pessoas com idade inferior a 60 anos, sendo a maioria das mortes por DCNT atribuível às doenças do aparelho circulatório, câncer, diabetes e doenças respiratórias crônicas. As principais causas dessas doenças estão relacionadas a fatores de risco modificáveis, como tabagismo, inatividade física (sedentarismo) e alimentação inadequada (Brasil, 2011). O tratamento para estas doenças pode ser de curso prolongado, onera os indivíduos, as famílias e os sistemas de saúde, e os gastos familiares com DCNT reduzem a disponibilidade de recursos para outras necessidades básicas como alimentação, moradia, educação.

O custo individual de uma doença crônica no Brasil é alto, devido aos custos agregados, o que acaba por contribuir para o empobrecimento do paciente e sua família. Além disso, os custos diretos das DCNTs para o Sistema Único de Saúde (SUS), gratuito e universal, representam impacto crescente e respondem pelos maiores gastos do sistema, aplicados em pagamento de internação hospitalar e tratamento: “as internações que podem ser atribuídas à inatividade física decorrentes de DCNTs representaram um custo estimado em cerca de R$ 290 milhões para o SUS em 2019” (UFF, 2021). Borges et al. (2023) reportam que, no estado de São Paulo, o mais populoso do Brasil, entre 2000 e 2019, cerca de 14,5% do total de internações ocorridas no âmbito do SUS apresentavam condições sensíveis à atenção primária, sendo a insuficiência cardíaca a de maior taxa de internações e de maiores custos. Diante deste quadro, com recursos financeiros limitados, é fundamental expandir os ganhos em saúde e evitar gastos de forma a otimizar o uso dos recursos disponíveis.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) sugere que a manutenção de uma rotina de exercícios físicos beneficia a saúde física e mental: a atividade física é boa para o coração, o corpo e a mente (OMS, 2020) e é capaz de prevenir ou restringir enfermidades de diversos fatores causais que produzem reflexos na saúde mental. A saúde está relacionada com o bem-estar humano e é definida como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não meramente a ausência de doença ou enfermidade” (Who, 2020, p. 6). Em decorrência, saúde mental não se define pela ausência de transtorno mental, mas é muito mais do que isto: saúde mental faz parte intrínseca da saúde como um todo e do bem-estar individual e coletivo, integra a saúde e o bem-estar geral como um direito humano básico (Who, 2022).

Indivíduos com problemas de saúde mental tendem a expressar níveis mais baixos de bem-estar mental. Assim, a saúde mental se relaciona com promoção do bem-estar, prevenção de transtornos mentais, tratamento e reabilitação de pessoas acometidas por esses transtornos (Brasil, 2013). A atividade física traz benefícios à saúde mental, incluindo prevenção do declínio cognitivo e sintomas de depressão e ansiedade (OMS, 2020). Oliveira et al. (2011, p. 128) aduzem que a atividade física interfere diretamente na função cognitiva, ou no sistema funcional cognitivo, justamente nas “fases do processo de informação como percepção, aprendizagem, memória, atenção, vigilância, raciocínio e solução de problemas”, e no “funcionamento psicomotor (tempo de reação, tempo de movimento, velocidade de desempenho)”.

Oliveira (2012) tem apontado os efeitos benéficos da atividade física em diferentes níveis, que vão da simples melhora física e motora a benefícios sociais e psicológicos. A atividade física regular contribui de forma significativa para melhorar o autoconceito, a autoimagem corporal, maior positividade, confiança e segurança, o que demonstra forte correlação entre atividade física e satisfação com a vida e com sentimentos positivos. Tal prática afeta o estado de humor ao liberar substâncias que melhoram a sensação de bem-estar, reduzem a ansiedade, elevam a autoestima do indivíduo e influencia na qualidade da interação social que favorece o estado de ânimo (Nahas, 2017). É o que se verifica com o trabalhador fisicamente mais ativo: por exercer uma atividade física ligada ao trabalho, a atividade que realiza torna-o mais saudável, mais disposto e motivado a executar suas tarefas cotidianas, reduzir o absenteísmo e garantir o presenteísmo (Gonçalves, 2019).

Quanto à duração e intensidade da atividade física necessária para produzir os benefícios expectados, sugere-se seja executada com intensidade moderada ou vigorosa durante 180 a 300 minutos por semana para homens e na intensidade moderada ou vigorosa por 150 a 300 minutos por semana para mulheres – com intervalos adequadas de descanso para promover os benefícios à saúde cardiovascular e metabólica (Nahas, 2017; Pitanga, 2019; Pitanga; Beck; Pitanga, 2020; Silva et al., 2023). Estas recomendações estão alinhadas com os principais guias sobre atividade física, publicados por organizações internacionais.

É compreensível que a prática regular de atividades físicas além de trazer inúmeros benefícios ao organismo, é importante aliado da saúde mental, impactando-a positivamente (Brasil, 2021). Sabe-se que o sedentarismo é a principal causa do aumento da incidência de várias doenças crônico-degenerativas (hipertensão arterial, diabetes, obesidade, ansiedade, aumento do colesterol, infarto do miocárdio) e o principal fator de risco para a morte súbita, na maioria das vezes associado às causas ou ao agravamento da grande maioria das doenças (Oliveira et al., 2011). A condição sedentária estimula o surgimento de doenças, diminui as funções fisiológicas e cognitivas e reduz a autoestima, aumentando os níveis de ansiedade (Nahas, 2017).

Na saúde mental, o impacto do sedentarismo é igualmente devastador: diminui a autoestima, autoimagem, bem-estar e sociabilidade; aumenta a ansiedade, níveis de estresse e depressão e comunga riscos com os males de Alzheimer e de Parkinson e prejudica a cognição (Oliveira et al., 2011). A atividade física moderada ou vigorosa beneficia a saúde mental: melhora o humor e confere maior disposição, calma, satisfação; reduz o estresse e a pressão sanguínea; acarreta benefícios fisiológicos e psicológicos ao diminuir o estresse, a depressão e a ansiedade; aumenta a autoimagem, a autoestima e o ânimo; gera melhor sensação de bem-estar, de humor e reduz a ansiedade, tensão e depressão; reforça a sociabilidade e a interação social e no trabalho, reduz o isolamento (Nahas, 2017); interfere na regulação do sono ao reduzir a irritabilidade e produzir sensação de tranquilidade (Oliveira et al., 2011).

Além dos benefícios em várias instâncias da vida do indivíduo (físicas e mentais), a prática regular de atividade física está associada a benefícios psicológicos, como reatividade menor ao estresse, diminuição da ansiedade, depressão e hostilidade, melhora do humor, do autoconceito e do bem-estar psicológico, em pessoas saudáveis e em pacientes clínicos (Oliveira; Alves, 2023). A saúde mental é fator importante para obtenção de qualidade de vida. Inversamente, sintomas emocionais negativos conduzem as pessoas a maior vulnerabilidade às doenças, são capazes de prolongar infecções e retardar a cicatrização de feridas. Se exposições excessivas ao estresse podem influenciar o domínio físico, a cognição, o estado emocional e comportamental (Nunes et al. 2020), a prática de exercícios físicos aeróbicos ou anaeróbicos reduz os níveis de ansiedade e estresse mental e aumenta o estado de felicidade, sendo eficaz na melhora de percepção de saúde e bem-estar (Nahas, 2017; Menezes et al., 2021).

Por isso, a conscientização por parte da população acerca dos benefícios da atividade física tem aumentado consideravelmente, e ficam angustiadas e ansiosas as pessoas que ainda não aderiram à prática nem desenvolvem ações para cuidar de sua constituição física e de sua saúde mental. A atividade física refere “qualquer movimento corporal, produzido pela musculatura esquelética, que resulta em gasto energético” (Oliveira et al., 2011, p. 17), com componentes biopsicossociais, culturais e comportamentais. A ausência de atividade física é fator determinante na epidemia de doenças degenerativas do ser humano e – vale a pena insistir – se vincula à carga mais alta de morbidade e mortalidade representadas por hipertensão, obesidade, osteoporose, diabetes, alguns tipos de cânceres, doenças coronarianas e isquemia cerebral (Oliveira et al., 2011; OMS, 2020). Indivíduos ativos, mesmo moderadamente, têm menores riscos de desordens mentais do que sedentários (Oliveira et al., 2019).

Em idosos, o exercício físico pode interferir no desempenho cognitivo por diversos motivos: a) aumento nos níveis dos neurotransmissores e mudanças em estruturas cerebrais, quando se comparam indivíduos ativos e sedentários; b) sensível melhora cognitiva especialmente em indivíduos com prejuízo mental, na comparação com indivíduos saudáveis; c) pela melhora limitada devido à menor flexibilidade mental ou atencional em relação aos jovens (Nahas, 2017; Oliveira et al., 2019).

Quanto à função cognitiva, a ação do exercício físico aumenta a velocidade do processamento cognitivo, melhora a circulação cerebral e altera a síntese e degradação de neurotransmissores; indiretamente, diminui a pressão arterial, faz decrescer os níveis de triglicérides no plasma sanguíneo e inibe a agregação plaquetária, melhora a capacidade funcional geral, com reflexos na qualidade de vida (Nahas, 2017). Em idosos, a prática de exercício físico funciona como importante protetor contra o declínio cognitivo e demência (OMS, 2020). Ainda existe a possibilidade de reflexos da prática de exercícios físicos sobre os efeitos do estresse oxidativo e o Sistema Nervoso Central (SNC): o exercício físico aeróbico tenderia a aumentar a atividade de enzimas antioxidantes e, como acontece com outros tecidos (músculo esquelético, p.e.), aumenta a capacidade de defesa contra os danos à saúde causados por espécies reativas de oxigênio (Prestes et al., 2022).

A atividade física aumenta a liberação de diversos neurotransmissores (norepinefrina e seus precursores, serotonina e ß-endorfinas), principalmente se o exercício for mais vigoroso, o que parece estar relacionado a uma memória melhor; sinapses dopaminérgicas e noradrenérgicas surgem como elementos importantes em processos mnemônicos e influencia na plasticidade cerebral por aumentar a densidade vascular no córtex cerebelar, manter íntegra a função cerebrovascular e evitar a redução de circulação cerebral por efeitos adversos (Neves; Silva, 2019). A atividade física sistemática permite ao indivíduo otimizar seu bem-estar físico e saúde mental, conquistar um pensamento mais lógico, crítico e criativo, e agilizar respostas a estímulos internos e externos, o que contribui para superar crises e problemas cotidianos (Oliveira et al., 2011).

Oliveira et al. (2011) e Costa et al. (2023) destacam a influência da prática da atividade física no combate a danos do estresse crônico provocados ao organismo enfraquecido em suas respostas a agravos: elevação constante dos níveis de cortisol no sangue, depressão do sistema imune (suscetibilidade a infecções), supressão do sistema de defesa, sensação persistente de ansiedade, impotência e fracasso iminente; associação à depressão severa, acúmulo de gordura abdominal, risco aumentado de desenvolver doenças cardíacas, diabetes e crônico-degenerativas. Ainda interfere nos efeitos perniciosas do estresse crônico na esfera psicológica ou cognitiva: ansiedade, confusão, desorientação, indução a pensamentos obsessivos, incapacidade de resolver problemas, concentração baixa, aprendizado inibido.

Neste espectro, é papel do psicólogo sugerir intervenções para tratamento de distúrbios mentais, enfrentamento e reestruturação cognitiva, pois dispõe de ampla gama de técnicas que, aplicadas de forma combinada, alcançam os transtornos mentais e ajudam os pacientes a identificar e modificar crenças irracionais e esquemas cognitivos relacionados ao medo de fracasso, perfeccionismo, vergonha e culpa. O psicólogo conta com recursos (como psicoterapia) para tratar transtornos psicológicos (ansiedade, depressão). Diante da percepção de qualquer transtorno mental, o apoio psicológico é essencial ao equilíbrio do corpo e da mente, em busca da obtenção de mais qualidade de vida (Brasil, 2013).

A atividade física regular é o melhor suporte para prevenir doenças, promover saúde e gerar respostas imediatas no organismo, como relaxamento e alívio de estresses, com benefício direto à saúde mental (Oliveira et al., 2011). Oliveira (2012) acentua os benefícios psicológicos da prática de atividades e exercícios físicos: aumenta a autoestima e autoimagem corporal; reduz a ansiedade, a depressão e sintomas a ela associados; proporciona sensação de bem-estar; estimula a interação social; melhora o humor e o condicionamento físico que refletem qualidade de vida. Assim, praticantes de atividades físicas delas extraem efeitos benéficos para o corpo físico e, nomeadamente, para a esfera psicológica.

É recomendável manter uma rotina equilibrada de atividades físicas, reorganizando o dia a dia e disponibilizando tempo para o autocuidado e hábitos saudáveis. Praticar exercícios físicos regularmente é prevenir adoecimento mental. Sugere-se mudar de estilo de vida e incorporar a prática de atividades físicas ao cotidiano para prover bem-estar e a saúde física e mental. Merecem destaque alguns benefícios da relação direta ente atividade física e saúde mental em diferentes etapas do desenvolvimento humano: bem-estar físico, emocional e psíquico; redução de respostas emocionais diante do estresse e estados de ansiedade; redução dos níveis de depressão e de alguns comportamentos neuróticos; aguçamento da criatividade e da memória, capacidade de concentração e da função cognitiva (Nahas, 2017); aumento de capacidade aeróbica, resistência e treinamento de força; percepção ampliada de autoestima, bem-estar físico e psicológico; percepção da qualidade de vida associada à melhora na autoeficácia e afetos positivos (Peixoto, 2021).

Paiva e Carlesso (2019) realçam que o psicólogo desempenha papel crucial no estímulo, apoio e sustentação aos praticantes de atividades físicas, tanto nas dificuldades que enfrentam, quanto na adesão e persistência da prática, com intervenções que vão do aconselhamento à psicoterapia para superar medos e fracassos, na perspectiva de extrair o maior proveito para a saúde física e mental. A atuação do psicólogo, porém, deve ter abordagem muldisciplinar, da elaboração de estratégias para promoção da saúde e prevenção de doenças às intervenções pontuais e individuais, de forma a não ficar restrito a uma visão única, mas compreensiva de diferentes ângulos.

Em síntese, os principais benefícios físicos e psicológicos da prática de atividades físicas em seus diferentes níveis de intensidade referem: fortalece a autoestima em indivíduos com depressão, transtorno de ansiedade, de imagem; reduz o estresse ao direcionar a atenção ao controle do corpo; protege o sistema cognitivo, previne a memória e doenças degenerativas; reduz envelhecimento precoce das células e promove a longevidade; revigora o sistema imunológico prejudicado por doenças mentais; combate doenças ocasionais (resfriados, problemas do trato intestinal) e contribui para a ativação dos hormônios da felicidade (serotonina: qualidade do sono, humor, ritmo cardíaco, funções intelectuais; endorfina: combate estados de ansiedade, depressão; dopamina: controle de movimento, prazer); aumenta a disposição, garante maior produtividade. Por ser barata, a prática de atividade pode ser direcionada a grande parte da população como método alternativo de tratamento e equilíbrio geral do binômio corpo/mente. Para alcançar o máximo dos efeitos dos exercícios físicos, porém, é necessário respeitar a prescrição ideal para cada praticante, segundo os níveis das atividades e exercícios: volume e intensidade.

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