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Sexta, 19 de Abril de 2024

Amélia. A mulher de…

12/05/2021 as 06:04 | Brasil | Da Redaçao
Alta, magra, razoavelmente bonita e, comparativamente a seus amigos, muito inteligente. Rouca, era ouvida não apenas pelo tom da voz, mas pelo conteúdo do que dizia a um pequeno público formado por quem considerava como líderes. Era certo que, em pouco tempo, não seria só mais uma entre todas. Era Amélia.

A proeminência física e os cabelos sempre “armados” eram dois dos vários fatores que a impediam de passar despercebida por onde andasse. Se não falasse, logo perguntavam sua opinião – muitas delas, senão todas, baseadas em conhecimentos obtidos de livros escritos em espanhol.

Era estudante de Jornalismo e não se esforçava para deixar para trás o sotaque mineiro que carregava como herança familiar, criada em Caratinga. Ingressou na faculdade quando já morava em Vitória, aos 19 anos.

Foi na capital capixaba que conheceu seu primeiro grande amor. Ou foi ele quem descobriu a “mulher de verdade”? Foi também por lá que fez outras amizades com gente que entendia de tudo e que também gostava de falar espanhol, castelhano, portunhol… e dividir hábitos semelhantes. O mundo da época não era azul nem cor-de-rosa. Era verde-oliva.

Não demorou muito mais para que Amélia também ficasse famosa entre quem não gostava das pseudo sabedorias importadas da América Central ou das “conquistas” do proletariado sul-americano defendidas por seus amigos. E logo ela foi parar em uma ficha policial porque nem tudo o que fazia era lícito para a época. Ser pichadora de muros e distribuidora de panfletos não a credenciavam para ser gente de bem.

Foi aí que teria sido torturada por ser comunista. Estava grávida. Amélia não era apenas a “mulher de verdade”. Era militante de um partido político proibido no país por 21 anos. Mas, julgada, anos depois, saiu livre.

Do jornalismo pulou para a economia, com um segundo diploma, depois de frequentar redações de grandes órgãos de imprensa e caiu nos encantos de um grupo de empresas que apoiou publicamente, anos antes, o governo verde-oliva. Contradição? Moeda de troca. A voz rouca passou a ser dirigida empresarialmente e não mais enredada por amigos.

À comissão da verdade (?) disse ser vítima. Não admitiu que desejava o comunismo.

Posicionamento diverso do comum entre seus muitos comentários foi a relação que viu entre um famoso ex-milionário brasileiro com um banco oficial. É de deixar de boa aberta, disse. O grupo de empresas era, à época, forte aliado em negócios com o governo da parcela que se dizia proletária e que, mesmo que pouco e com aspas brilhantes, enfrentara o governo de coturnos.
Mais tarde virou sua metralhadora na direção de colegas de trabalho. Chegou a dizer que dois deles, entre os mais famosos, emburrecem o país e chamou a direita brasileira de hidrófoba (possessa, raivosa), revelando que seu ladinho de esquerdista permanece.

Desde 2017 seu alvo permanente é o presidente Jair Bolsonaro. Não se aquieta um dia sequer sem chafurdar pelas decisões governamentais e pelas asnices da esquerda atrás do que tornar manchete. Passou de moeda de troca para ponta de lança. A mais pontiaguda. Disse que o presidente é um perigo ao país e que o Brasil será uma nova Venezuela se Bolsonaro não for tirado do Planalto. Amélia afinou o discurso com o da minoria e não baixa a crista mesmo sem nenhuma manchete de corrupção em dois anos e meio do governo atual. Seus novos ídolos continuam assemelhados aos que adoravam discursos em espanhol e defendiam reações até armadas.

A letra da música de Mário Lago – outro comunista – e imortalizada pela voz rouca de Ataulfo Alves, na década de 1940, não se encaixa em nada a ela. O apelido, usado para tentar enganar autoridades da época, também não! Era “mulher de verdade” apenas entre seus amigos. E vai permanecer na história como representante de um jornalismo militante, partidário e indesejável.

VALDECIR CREMON É jornalista e professor universitário.
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