Quinta, 25 de Abril de 2024

O meu amor me chamou pra ver a notícia passar

12/06/2017 as 10:42 | Fernandópolis | Sérgio Piva
Nos últimos dias, os campeões de audiência na televisão, os recordes de leituras nos jornais e de viralização na internet parecem ser as notícias.

O assunto que mais ocupa os noticiários, há muito, gira em torno do tema honestidade ou a falta dela. Sem querer ser repetitivo, mas já sendo, quero destacar aqui as notícias e os fatos que me chamaram atenção nesse período.

Nossa educação – Notícia veicula no site G1 CE, no dia 8 de junho – “Uma empresa do ex-ministro da Educação e ex-governador do Ceará, Cid Gomes, foi multada em mais de R$ 6 milhões pela construção irregular de um empreendimento imobiliário em uma serra na cidade de Meruoca, distante 250 quilômetros de Fortaleza. A multa foi aplicada na terça-feira (6) pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), durante uma fiscalização conjunta com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). Em nota, Cid Gomes informou que a construção possui alvará e que "acionará a Justiça contra a arbitrária e descabida sanção aplicada". O ex-governador alegou que está sendo "vítima de arbitrariedade e clara perseguição política. Conforme a coordenadora regional substituta do IMCBio, Karina Teixeira, a obra foi realizada de forma irregular em uma Área de Proteção Ambiental (APA), em um trecho também caracterizado como Área de Proteção Permanente (APP), parte da Mata Atlântida. O Instituto Chico Mendes recebeu uma denúncia e, durante a fiscalização, os agentes constataram as irregularidades.” Será que um (ex) Ministro da Educação não sabe o que significa APA e APP? Ou não tem conhecimento sobre o tema prejuízos ambientais? Talvez sua área de estudo tenha se restringido apenas ao objeto lucro.

Desinovação – O programa Bom Dia Brasil, no dia 8 de junho, noticiou que “o Ministério Público Federal está investigando aluguel milionário feito pela Finep. Mesmo sendo dona de várias salas em um prédio com localização privilegiada no Rio, a Finep - Agência Brasileira de Inovação - decidiu alugar imóvel que custou aos cofres públicos mais de R$ 200 milhões em 10 anos.” Há suspeitas de que o aluguel, realizado sem licitação, custou mais caro do que deveria. Um absurdo, pois não houve nenhuma inovação por parte dessa agência, isso já tem sido feito no Brasil há muito tempo. Detalhe, a Finep tem um Código de Ética e Conduta, onde diz, em um de seus incisos, que ela se destina a “disseminar conceitos sobre ética pública, princípios e normas de conduta”. Supõe-se não terem lido sua própria publicação.

E nem sei o que responder – Outra notícia em destaque é sobre as 82 perguntas feitas pela PF a Temer. Entretanto, a pergunta mais interessante foi uma que veio via whatsapp: “Por que o Temer tem 24 horas para responder 82 duas perguntas (e o Fachin deu mais prazo) e os estudantes do Enem só 9 horas para responder 180 questões e ainda fazer uma redação?” Na verdade, eu só quero saber quem é o Edgar.

Para brasileiro ver – A notícia sobre o depoimento ao Senado americano do ex-diretor da Polícia Federal dos Estados Unidos, James Comey, que acusou Donald Trump de mentir sobre o motivo da demissão dele, não teve o destaque que deveria na imprensa brasileira. Justificado, diante de tantos outros fatos de relevância que por aqui estão acontecendo. Temos preocupações mais urgentes. De qualquer forma, tal fato expõe, para brasileiro, e também americano ver, que não é só aqui que gravam conversas com o presidente e que também não é só aqui que existem tentativas de barrar investigações, capazes de prejudicar a governança, e ações para obstruir a justiça, tomadas as devidas proporções com relação às soluções daqueles e as sentença dos daqui.

Chapas – O evento que mais está ocupando espaço no noticiário nestes dias é o julgamento contra a chapa Dilma-Temer. Quando você estiver lendo este texto, provavelmente, o resultado já será conhecido, posto que a redação deste texto é anterior à data de hoje, dia de sua publicação. Seja qual for ele, e parece que, pelo andar da carruagem, ou do carro de boi, cuja expressão retrata melhor a velocidade do processo, será favorável aos réus, para felicidade (quase) geral do PT, PMDB e até do PSDB. Ainda que houvesse decisão pela cassação, caberiam recursos que até serem julgados o mandato de Temer já teria terminado.

No espetáculo em que se transformaram as sessões plenárias desse julgamento, dentre tantos aprendizados jurídicos, poéticos, lógicos e interpessoais, uma fala do Ministro Napoleão Nunes Maia Filho chamou-me atenção. Ao ser interrompido mais de uma vez pelos outros ministros, na sessão do dia 8 de junho, o magistrado fez a seguinte declaração: “Eu já tenho dificuldade de falar, o meu raciocínio é lento, emperrado, tortuoso e raso, porque eu sou contraído e sou tímido, e quando eu sou interrompido eu perco o fio da meada, eu não sei mais o que tava falando”. Independentemente de seu posicionamento e de seu voto ao final do julgamento, ao menos, no plano pessoal, o Ministro Napoleão foi bastante honesto ao falar de si mesmo, expor publicamente algumas de suas características pessoais, deixando uma lição, de acordo com meu ponto de vista, sobre essas dificuldades, que jamais chamaria de defeitos, mostrando que elas não impediram seu crescimento profissional, quem sabe pessoal. Tal atitude revelou sua segurança, enquanto magistrado e pessoa humana, demonstrando que o autoconhecimento é ferramenta imprescindível no caminho do desenvolvimento cognitivo e intelectual.

Honestidade – O também Ministro, Luís Roberto Barroso, do STF, em entrevista, falando do julgamento da chapa Dilma-Temer, disse o seguinte: “Nós vivemos a possibilidade de um novo começo no Brasil, que é utilizar essa experiência dessa corrupção ampla e institucionalizada para, tal como fizemos com a ditadura, tal como fizemos com a tortura, poder dizer corrupção nunca mais, não uma corrupção de nível zero, todo país tem um nível de corrupção, mas é preciso criar uma cultura de honestidade, é preciso mostrar para as novas gerações que ser honesto vale a pena, porque a corrupção valoriza os espertos e não os bons.” Honestas palavras.

Onde está? – Em 1933, Noel Rosa já perguntava “Onde está a Honestidade? Sua música dizia: “O seu dinheiro nasce de repente/E embora não se saiba se é verdade/Você acha nas ruas diariamente/Anéis, dinheiro e até felicidade/ E o povo já pergunta com maldade:/Onde está a honestidade?/Onde está a honestidade?

Cultura – O ministro Barroso tem razão. Temos a chance de mudar a cultura da corrupção, forma há tantos anos, com uma “ajudinha” da família real portuguesa, desde o Brasil Colônia, como lembrou a matéria publicada no site do Jornal O Globo, em 6 de setembro de 2015, cujo primeiro parágrafo resume a questão: “No dia em que Dom João desembarcou no Rio de Janeiro, em 1808, ele recebeu “de presente” de um traficante de escravos a melhor casa da cidade, no mais belo terreno. Ceder a Quinta da Boa Vista à família real assegurou a Elias Antônio Lopes um status de “amigo do rei” e foi seu visto de entrada para os privilégios da Corte. Nos anos seguintes, como consequência, ele ganhou muito dinheiro rapidamente, além de títulos de nobreza. Lopes não estava só: era comum que senhores de engenho, fazendeiros e traficantes de escravos estabelecessem um regime de “toma lá, dá cá” com o rei, que chegou ao país praticamente falido. Os negócios públicos e privados já se confundiam no Brasil Colônia, mas essa ligação se estreitou com a vinda da Corte portuguesa, quando se instaurou o costume da “caixinha” — porcentagem de dinheiro desviada — e da troca de dinheiro por títulos de nobreza.”

O tempo e o vento – A cultura da honestidade precisa começar a ser cultivada pelo brasileiro, pelo povo que reclama da desonestidade dos políticos, mas se esquece que se torna corruptor quando vende seu voto ou quando toma altitudes já corriqueiras, aqueles que todos já estão cansados de saber, e que não são exemplos de honestidade. Político ou política, ao contrário daquilo que se vive gritando ultimamente, não é sinônimo de corrupção e desonestidade. Corrupto, desonesto é a pessoa, não o cargo. Existem pessoas sendo desonestas, incentivando a corrupção sem qualquer função pública. Honestidade faz parte do caráter, não é um objeto que troca de mãos ou decora a sala. Que não seja preciso mais duzentos anos para criarmos uma cultura de honestidade, que os ventos das mudanças levem as novas gerações a mensagem de que devemos valorizar as pessoas boas, jamais as espertas.

Às favas – O caos também é organizador. Quem sabe de novos hábitos, nova cultura. Valorizemos a honestidade e viremos as costas àqueles que não se preocupam verdadeiramente com as pessoas. Como disse o jornalista Alexandre Garcia, no programa Bom Dia Brasil, veiculado no dia 29 de maio: “E pra muitos é bom lembrar que o nome do país é Brasil, e não dinheiro.”

A banda – Espero que os campeões de audiência continuem sendo as notícias. Que a preocupação de todos esteja centrada nos possíveis destinos do país. Que não fiquem à toa na vida, vendo a banda passar.
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