Terça, 16 de Abril de 2024

Energicamente

28/03/2017 as 14:17 | Fernandópolis | Da Redaçao
Na varanda de minha casa, onde o sol é menos incidente, há uma cadeira de madeira ladeada por um pequeno banco, do mesmo material, que serve como local de descanso e leitura. Sempre tomo assento nessa cadeira, que é mais alta alguns centímetros em relação ao banco.

Noutro dia, ao invés de me sentar na cadeira, repentinamente, decidi pelo banco ao lado. Com o corpo já arqueado, dei um passo para o lado em direção ao banco, dando continuidade ao movimento. Quando parecia que estava prestes a atingir a superfície do banco, soltei o corpo. Foi quando senti um vazio e meu corpo caiu, até bater no assento do pequeno móvel. Pensei que já tivesse atingido o alvo, mas faltavam poucos centímetros até meu corpo repousar no banco.

Depois do quase-susto e de achar graça da situação, pensei sobre o porquê do ocorrido. Pareceu-me que meu cérebro já havia calculado a distância do corpo até o assento da cadeira, mas como decidi pelo banco, não ocorreu a atualização do cálculo da distância, um pouco maior, que meu corpo deveria percorrer até atingir o outro assento.

É intrigante como nosso cérebro programa todas as ações habituais que executamos repetidamente na vida diária. Como dirigir, cujos movimentos são, em sua maioria, inconscientes, já que não ficamos olhando e pensando, conscientemente, na troca de marchas que devermos executar, por exemplo.

Podemos pensar, então, nessa autoprogramação feita pelo cérebro e sobre quantas ações e reações são executadas diariamente obedecendo uma programação da qual não participamos, ao menos conscientemente, a fim de traçar as tarefas a serem realizadas e, ainda mais, determinar a maneira que desejamos realizá-las, assim como os objetivos a serem alcançados ao final.

Se a autoprogramação é capaz de nos manter vivos e ativos, dependendo do que o cérebro definiu, nossa vida poderia ser ainda melhor se fosse inerente ao ser humano a habilidade de realizar a própria programação.

No entanto, se eu, que sou mais bobo, já pensei nisso, é obvio que tantas outras pessoas já o fizerem. Não é à toa que existem as áreas de estudo como a neurociência e a neurolinguística, que há tempos tem desenvolvido teorias e “técnicas” com a finalidade de possibilitar ao ser humano realizar sua própria programação cerebral.

A Programação Neurolinguística (PNL) é uma delas. A PNL, segundo os estudiosos do assunto, “permite compreender melhor nosso funcionamento interno, identificar nossos modelos mentais, para que possamos questioná-los, refletir sobre os mesmos e, se preciso, ressignificá-los” (leia-se reprogramá-los).

O psicólogo Daniel Goleman, na década de oitenta, acrescentou a isso sua teoria denominada “inteligência emocional”, que fala sobre a influência de nossos pensamentos sobre nossas emoções, relatando que ser inteligente é ser capaz de pensar com clareza e com objetividade sobre nossas emoções, oferecendo controle sobre nós mesmos.

Mais recentemente, apareceu o conceito do “mindset” que, em tradução livre, significa algo como configuração da mente. Essa teoria propõe-se a cuidar do êxito pessoal e profissional dos indivíduos, comparando a mente a um computador com vários softwares, os quais podem ser (re)programados a partir de novas “atitudes mentais”.

Todas essas teorias devem ter partido do fato de que se o cérebro tem a capacidade de auto programar-se, e isso é um fato, da mesma forma é possível “reescrever” ou, ainda, “escrever” a programação pretendida. O que faz todo sentido, sem mencionar a infinidade de livros e cursos sobre o assunto e as técnicas disponíveis para a realização dessa tarefa.

Até onde eu li, não obstante os relatos de sucesso na aplicação de tais teorias, o que é pouco abordado nas inúmeras teses, não é o fato de ser possível ou não a programação ou configuração da mente, por meio das ferramentas (as capacidades infinitas de nosso cérebro) e das técnicas (os programas – maneiras de se lidar com a mente) a serem utilizadas, mas qual a fonte de alimentação do fazer pensar e agir de acordo com nossos desejos e vontades.

Se, figurativamente, nosso cérebro é um computador e nossa maneira de pensar, determinante de nossas ações, são os programas nele instalados, de onde retiro a energia para alimentar essa máquina e fazer funcionar todos os programas? Esse é uma questão não mencionada em qualquer daquelas teorias e que merece atenção.

Por isso, talvez o mais importante não seja a máquina ou quais programas serão utilizados. Antes de tudo, é essencial saber de onde retirar a energia que produzirá a força necessária e capaz de alimentar e fazer funcionar tudo isso.


Sérgio Piva
s.piva@hotmail.com
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