Os Bugios do Castanheira

Para quem não sabe, Bugios são macacos de porte médio, muito comum em nossas matas, e cuja característica marcante é (era?) que, especialmente ao anoitecer, emitem altíssimos sons, uma verdadeira “Sinfonia Macacóide”.

Embora arredios, não são agressivos, até porque não matam por prazer, maldade e/ou ignorância seus primos de espécie, como fazemos nós, os grandes, belos e inteligentes primatas do gênero Homo - eu, você e os demais “animais racionais”...

Durante anos, em nossas pescarias, sempre os víamos ou ouvíamos num dos mais belos recantos da Represa de Água Vermelha, a chamada Mata do Castanheira, em Indiaporã.

Uma ocasião, levamos um grupo de amigos e parentes vindos da Capital para conhecerem e pescarem em nossas, à época, piscosas e maravilhosas águas. Fomos de barco em alguns pontos da represa. À tardinha, apoitamos em frente à encantada Mata, onde os “marinheiros de primeira viagem” começaram a pegar bons peixes, e deliravam.

Ao escurecer, eis que começa o alarido dos nossos “parentes”, peludos tenores, invisíveis àquela hora e distância; visível era o susto e o medo dos visitantes... Devido aos altos e fantasmagóricos sons, indefinidos e sem origem, a imaginação e as suposições, alimentadas pelo medo, corriam soltas entre os visitantes da Capital.

Por brincadeira e curiosidade pra ver o temor e a fertilidade de suas imaginações, deixei-os sem explicação por algum tempo. Dos visitantes, iam brotando os palpites: onça/animal ferido ou acuado, trator turbinado, motor de irrigação, índios etc., estes por conta de um menino do grupo.

Esclarecida a origem da “orquestra simiesca”, voltamos de barco para o Rancho, comentando como eram estranhas e originais as atividades da vida social desses animais. Pensei, mas não falei, evitando quebrar o encanto “darwiniano” daqueles amigos: - em nossa sociedade há, também, muitos Bugios, só que com ações e intenções “racionais”.

Daqueles macacos as reações são instintivas - hoje quase “extintivas”, puras e espontâneas, talvez para mostrarem força e beleza às fêmeas ou ao grupo, e para assustarem animais maiores e mais fortes do que eles, afastando-os de seu habitat. Já, os Bugios “humanos”, ao contrário dos originais, causam mal ao seu ambiente e aos seres com os quais convivem. Vivem se escondendo na escuridão das matas do anonimato ou encobertos pelos mais deploráveis e nocivos interesses pessoais que defendem, emitindo sons e versões que assustam alguns, iludem a outros, enganando a muitos, às vezes até a nós mesmos!

É preferível nos defrontarmos com Bugios de aparência humanóide, mas de comportamento instintivo, previsível e útil, do que com homens que se animalizam, retrocedendo, em ideias e tramas, às mais irracionais e animalescas atitudes.

Engraçado, várias noites sonhei que estava passando a mão em meus braços; será que era para certificar se os meus pelos não estavam crescendo...?

Jesiel Bruzadelli Macedo.