De volta ao começo

Depois das férias, prolongadas por minha conta e risco, confesso que já estava com saudade desse espaço. Então, deixemos de bla bla bla e vamos ao que interessa. Podemos dizer, sem medo de errar, que o ano novo brasileiro efetivamente começou nesta quarta-feira de cinzas, com o final do Carnaval (se bem que lá na Bahia ainda continua a mil). Enfim, voltarão as discussões políticas e ou eleitorais, infelizmente partindo do mesmo ponto de onde pararam pouco antes do Natal e a bola da vez, agora, é o Lula. Parafraseando o próprio molusco mor, “nunca na história desse pais” um homem público foi tão massacrado. Sem paixão, penso que o momento é bastante apropriado para que possamos elevar o nível do debate.

As hostes petistas tentam fazer o contraponto com as acusações que vão surgindo aos borbotões contra o estadista de São Bernardo. Um amigo meu disse que, se o Lula for preso ou morrer amanhã, a corrupção no país não vai acabar. Segundo ele, o país está doente e a mídia ou a oposição (elas andam sempre juntas, segundo ele)conseguem desviar o foco de tudo e de todos. Houve um roubo? Culpa do PT. Choveu? Culpa do PT. Não choveu? Culpa do PT. Vou pedir licença para dele discordar, embora respeite sua opinião.

Na verdade, Lula é bananado mesmo cacho que produziu Collor, Renan, Sarney, Cunha, Aécioe tantos outros, sem distinção. São frutos do mesmo sistema falido. A única diferença é que a decepção com Lula (ou frustração, se preferirem) é maior porque ele vendeu a ideia de que era diferente dos demais. Deu no que deu: na prática, Lula e os seus renderam-se ao sistema que tanto combateram nos discursos.

Queiram ou não os simpatizantes deste ou daquele governo, a culpa é sempre de quem está no poder, por um motivo simples: porque é quem de fato tem a condição de mudar o atual estado de coisas. O PSDB já esteve lá e perdeu a sua oportunidade. O PT está lá e infelizmente também perdeu a sua. E agora, quem poderá nos socorrer?

Penso que o problema não seja este ou aquele partido que estão corrompidos. É triste constatar que o sistema é que está corrompido. O resumo da ópera é que, a continuar como está, nenhum partido político, pessoa ou ideologia estará imune à corrupção, e nisso eu sou obrigado a concordar com o meu bom amigo.

Nosso país está afundando no meio de tanta corrupção. As políticas públicas foram sendo deixadas de lado, perdendo espaço para a corrupção.Urgeacordar para a realidade e banir rapidamente da política aqueles que colocam seus interesses pessoais ou partidários acima dos interesses da população.

Mais do que isso, precisamos sair do discurso e tomar atitude, cobrando mudanças estruturais que façam o país voltar novamente aos trilhos. Este ano já dá para começar a fazer a lição de casa, elegendo prefeitos e vereadores comprometidos com esses propósito.Se isso não acontecer rapidamente, enquanto se digladiam as torcidas de um e do outro partido que se alternam no poder há mais de vinte anos, continuaremos a ver o sistema falido e anacrônico batendo palmas, assistindo de camarote a vitória da mesmice.

Henri Dias é advogado em Fernandópolis (henri@adv.oabsp.org.br)