Quarta, 24 de Abril de 2024

A culpa não é só do mordomo

17/04/2015 as 07:50 | | Da Redaçao
Muito embora os filmes de terror, em geral, conduzissem o desfecho de suas tramas de suspense para o serviçal quase sempre taciturno e ou circunspecto, claro que a culpa nem sempre é do mordomo. Faço um paralelo entre os thrillers policialescos com a triste realidade vivida ultimamente pela cidade de Fernandópolis nas páginas policiais.
Enfim, caiu a máscara daquele que foi, por longos e penosos anos, o “grande timoneiro” da política local. As informações que se seguiram à prisão do ex-prefeito mostraram que existe muita sujeira debaixo desse tapete. Porém, pese a responsabilidade maior pelos malfeitos seja do nosso “midas às avessas”, existem vários outros personagens que também podem colocar na sua contabilidade uma parcela da culpa pelo que aconteceu na Fundação Educacional de Fernandópolis.
Primeiro, o Conselho Curador da Fundação e sua incrível capacidade de não querer ver o que se comentava nas rodinhas, aqui e ali, fazendo vistas grossas às ações temerárias do seu então presidente. Tivesse havido um mínimo de boa vontade de qualquer um de seus membros, provavelmente a FEF não estaria nessa penúria.
Nunca é demais lembrar que o Conselho Curador é formado por membros de entidades e clubes de serviço que estão abrigados e envolvidos com a Associação de Amigos, cantada em prosa e verso pelos quatro cantos como a mola propulsora do desenvolvimento da cidade. Essas entidades, e a própria associação, porque não, contribuíram, também, com suas conivências, para que a instituição chegasse ao fundo do poço.
Não foi só. O então Curador de Fundações, com sua desídia, também contribuiu para que o ex-presidente agisse como um déspota, mandando e desmandando, deixando de atentar para a única razão de sua existência, de acordo com o Código Civil brasileiro: vigiar, cuidar, zelar, assistir para que nada lhe falte, para que não morra e para que cumpra o seu destino. Esse é o verdadeiro sentido da Curadoria de Fundações adotado pelo legislador.
A atuação do Ministério Público, nesses casos, importaria em acompanhar e fiscalizar as administrações para que não se desviassem do reto caminho e para o atendimento das finalidades da instituição. Ora, todos sabemos que o ordenamento jurídico confere à promotoria todos os instrumentos necessários para que, administrativa ou judicialmente, buscasse as correções necessárias, sob o amparo da lei e das normas estatutárias. Infelizmente, não o fez e agora todos pagamos, também, por isso. E olhe que inúmeros foram os questionamentos nesse sentido, ao longo dos anos, em especial do saudoso João Leone e sua série épica de textos sobre o assunto, que grande polêmica causaram na ocasião e hoje se mostraram totalmente acertados e, pasmem, senhores, previsíveis.
Por fim, os antigos “cupinchas”, muitos, hoje, seus detratores, companheiros que, com os costumeiros tapinhas nas costas e muito “oba oba” também deram sua contribuição ao propagar a síndrome de Polyana, vendendo nas ruas e nas esquinas e padarias da vida um mundo onde tudo era cor de rosa. Mais ainda, que o grande timoneiro seria a única pessoa capaz de mudar os destinos da cidade e incapaz de fazer algum mal a quem quer que fosse. Deu no que deu e a cidade ficou no prejuízo. Hoje, os apaniguados estão mudos, fazendo cara de paisagem. Então, vamos combinar, a culpa não é só do mordomo. Fica a dica!


Henri Dias é advogado em Fernandópolis (henri@adv.oabsp.org.br)
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