Sexta, 19 de Abril de 2024

Sobre a cassação da prefeita de Jales

19/02/2015 as 07:50 | | Da Redaçao
A vizinha cidade de Jales amanheceu na quarta feira de cinzas com um novo prefeito. A reunião extraordinária que resultou na cassação do mandato da agora ex-prefeita Nice Mistilides foi a mais longa da história da edilidade jalesense, onde os parlamentares se revezaram na leitura de 1.100 páginas da comissão processante durante as 24 horas de duração da sessão.

Ao final, foram nove votos a favor e apenas um voto contra, a demonstrar que as provas produzidas pela comissão processante convenceram quase que a unanimidade dos vereadores.

Pedro Callado assumiu o executivo (não se sabe até quando, em razão das inúmeras possibilidades judiciais de reviravolta) em uma cerimônia rápida e no seu primeiro discurso já adiantou que pretende “unir todas as forças políticas e comunitárias em prol desse momento grave em que vivemos”. Bingo! O novo prefeito acertou em cheio.

Na verdade, não há o que comemorar, pois o episódio que resultou na cassação de Nice foi um fato triste para a história da cidade. Triste, porém deve funcionar como exemplo para os futuros mandatários. Mais triste ainda foi observar que a ex-prefeita havia sido a primeira mulher a se eleger para o cargo máximo jalesense. O que era para ser marcado como uma quebra de barreira ou de preconceito, acabou sendo maculado pela triste cassação.

De qualquer ângulo que se olhe, embora seja um fato que, grosso modo, envergonha a cidade, há que se fazer do limão uma limonada, e é isso que demonstrou o novo prefeito nas suas primeiras intervenções, jogando a responsabilidade da governabilidade também sobre a comunidade e os vereadores, a indicar que pretende manter completamente aberto o canal de comunicação entre a população, o Executivo e o Legislativo, como, aliás, deveria sempre ocorrer.

Já escrevi aqui, neste mesmo espaço, que a solução para a maior parte dos nossos problemas é o aprimoramento da nossa capacidade de dialogar. Na política também é assim. A ausência do diálogo impede a chance do entendimento. Quando há diálogo, os opostos baixam as armas e deixam suas posições de ataque e se tornam flexíveis. Isso não quer dizer que somente o diálogo resolva tudo, mas não tenho dúvida que, sem ele, os dois lados ficam cada vez mais isolados. Cada um fazendo do seu jeito, são inevitáveis os choques e nessas condições, quem perde é sempre a população. Foi o que ocorreu em Jales, penso eu, ainda que a distância.

As pessoas envolvidas na arte de fazer política precisam expor claramente suas idéias, sem esquecer que a arte de dialogar inclui as habilidades de ser firme mas também, de ceder. Precisam, também, aceitar que são suscetíveis às críticas e que as críticas honestas servem para nos fazer crescer e nos orientar, por isso devem ser, sempre, consideradas.

Calejado pelos anos de magistratura, onde, mesmo tendo que distribuir justiça e fazer cumprir a lei, usou e abusou da arte de dialogar, Pedro Callado inicia uma nova carreira e dá demonstração de que pretende seguir na mesma linha. Fazendo um trocadilho (permitam-me, pese a seriedade do caso), todos querem que Callado fale. E muito. Façamos votos de que assim seja!


Henri Dias é advogado em Fernandópolis (henri@adv.oabsp.org.br)
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