Quinta, 18 de Abril de 2024

Time dá W.O. por "granizo" e é "premiado" com classificação

20/11/2014 as 00:00 | Brasil | Da Redaçao
No Campeonato Carioca da Série C de juniores, a Ferj (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) adicionou mais um absurdo para sua coleção.

Eram as quartas de final do certame, e o Nova Cidade, primeiro colocado de sua chave, enfrentaria o Teresópolis. No jogo de ida, no Estádio Joaquim Almeida Flores, em Nilópolis, casa do alvirrubro, decepção.

A derrota por 4 a 0, entretanto, não fez definhar o clube, que gastou R$ 1,7 mil e percorreu 100 km para o jogo de volta, no Pitucão, em Teresópolis. Por lá, apenas um time em campo. O Tricolor do Alto alegou falta de recursos para pagar o borderô. O WO, segundo regulamento, concede o 3 a 0 para o adversário, quantia insuficiente de gols para a classificação da equipe nilopolitana e que alçou o Teresópolis para as semifinais.

Em entrevista ao ESPN.com.br, o diretor do Nova Cidade, Jaílton Caravelas, fez uma denúncia sobre o que ocorre na competição. Com problemas financeiros e buscando o resgate da credibilidade perdida com o passar dos anos, a equipe nilopolitana acabou eliminada da competição, mesmo com o absurdo anti-desportivo protagonizado pelo Teresópolis.

"É muito difícil. Estamos tentando resgatar uma equipe que é a única das três que está na Série C e já disputou a primeira divisão do estadual. Mas não há contrapartida da federação. Os custos altíssimos contrastam com as péssimas condições dos clubes. Além da parte financeira, desportivamente, há um claro favorecimento aos clubes ligados à federação. O campeonato é deficitário, nosso clube sofre muito com a falta de dinheiro e ainda assim, ficamos em primeiro da nossa chave. Perdemos um jogo em que tínhamos três suspensos por amarelos. Acontece, coisa do futebol, apesar da arbitragem ter se mostrado mal intencionada. Na volta, não desistimos e íamos pra cima do Teresópolis. Gastamos dinheiro, deslocamento, alimentação, hospedagem. Chegando lá, constatamos o absurdo", disse o dirigente.

O Teresópolis sequer mandou representantes para o local da partida. Moradores da região avisaram que a equipe não entraria em campo, alegando falta de dinheiro para o pagamento do borderô. Curiosamente, após reclamações do Nova Cidade, os dirigentes do Tricolor do Alto ofereceram cobrir os custos da viagem, algo negado pela diretoria.

"O Flamengo venceu o Atlético-MG por 2 a 0 em casa e perdeu de 4 a 1 fora. O futebol é dinâmico e tudo pode acontecer. Não entrar em campo é absurdo, ridículo. Uma falta de respeito com os profissionais. Nós sofremos muito para fazer o clube andar. Parcelamos uma dívida de R$ 90 mil e, depois, pagamos à vista mais uma de R$ 19 mil junto à Ferj. Conseguimos manter nossa equipe, um time de garotos. Sem credibilidade e na Série C, não temos um grande plantel, mas o elenco lutou muito e está de parabéns. Aí, uma equipe ligada à Ferj faz isso e é premiada com a classificação. É lamentável", adicionou Jaílton.

Para o dirigente, ficou muito clara a falta de desportividade do Teresópolis. Mas o Tribunal de Justiça Desportiva da Ferj, em decisão unânime, absolveu a equipe da Serra. O time alegou, juntamente com a falta de dinheiro, que uma chuva de granizo, um dia antes, tirava as condições de jogo.

"Não houve problema algum. Utilizaram fotos de casas destruídas e campo alagado como provas. A realidade não era essa quando chegamos lá. O Teresópolis não quis entrar em campo e foi beneficiado pela Ferj. O regulamento favorece justamente quem o burla", declarou o diretor, que faz parte de uma junta que venceu as eleições no clube após anos de descaso da antiga gestão.

O Nova Cidade é uma equipe de mais de 75 anos de existência. Depois de disputar todas as divisões inferiores, conseguiu o acesso para a primeira divisão carioca, se sagrando campeão, de forma inédita, da Série B estadual. Em 1989 e 1990, o clube esteve junto de Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo na Série A. Mas nos dias atuais, a realidade bateu à porta.

"Trabalhei por dez anos no Vasco. É claro que tinha favorecimento, principalmente contra os pequenos. Agora, do outro lado, vejo como é difícil, como é covarde. A federação não se preocupa com os clubes, que estão fechando, acabando. É quase impossível sair do amadorismo. Tivemos ajuda da prefeitura, do governador e agora, padecemos à esse absurdo. A Ferj é conivente com quem não respeita o regulamento", finalizou Jaílton.

Em seu site oficial, a Ferj divulgou a decisão do tribunal. No documento, o TJD informa que o Teresópolis foi absolvido por unanimidade da denúncia do Nova Cidade quanto à imputação do art. 203 do CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva), que prevê "perda de pontos para as equipes que deixam de disputar, sem justa causa, alguma partida". Algo estranho, já que o Teresópolis deu sua justificativa, por mais esquisita que pareça. Procurados pela reportagem, a Ferj e o TJD não se manifestaram sobre o caso.
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