Sábado, 20 de Abril de 2024

Tarcísio e Haddad vão disputar o 2º turno em São Paulo

02/10/2022 as 20:40 | Estado de São Paulo | UOL
O ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos), 47, e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), 59, se enfrentarão no segundo turno das eleições 2022 para o governo de São Paulo, no próximo dia 30.

O resultado de hoje coloca fim à hegemonia do PSDB, que governa o estado há 27 anos. Rodrigo Garcia, atual governador, ficou em terceiro lugar. Foram sete eleições seguidas com vitória tucana, uma sequência iniciada por Mário Covas na eleição de 1994.

Haddad tenta o feito inédito de ser o primeiro petista a governar o estado mais rico e populoso do país com o apoio de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do vice dele, Geraldo Alckmin (PSB), que comandou São Paulo por três mandatos quando ainda estava no PSDB. Já Tarcísio disputa sua primeira eleição, apadrinhado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

SP na mira na eleição para a Presidência. A disputa pelo Palácio dos Bandeirantes repetiu a polarização entre Lula e Bolsonaro, que dominou a campanha nacional. No último debate entre os candidatos ao governo, na terça (27), Haddad e Tarcísio promoveram uma dobradinha e deixaram Rodrigo de lado, trazendo para o estado o tom de disputa nacional.

O petista liderou as pesquisas de intenção de votos desde o início, mas a vantagem em relação aos principais adversários diminuiu nas últimas semanas. As campanhas já davam como certo que a disputa seguiria para o segundo turno. No entanto, havia um cenário de indefinição entre Tarcísio e Rodrigo pela segunda vaga.

Tarcísio subiu à medida que a campanha ganhou as ruas e se tornou mais conhecido e mais associado a Bolsonaro, mas não conseguiu abrir ampla vantagem contra Rodrigo — os dois apareciam tecnicamente empatados em algumas pesquisas e ele ultrapassou o tucano apenas na reta final.

Quem é Fernando Haddad?
Candidato do PT à Presidência em 2018, Haddad já foi prefeito de São Paulo e ministro da Educação nos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff. Advogado de formação, nasceu em São Paulo, é casado e pai de dois filhos.

A experiência enquanto ex-ministro foi amplamente trabalhada pela campanha dele, com foco voltado para a construção de creches e a criação de programas como ProUni, Sisu e Fies. O passado na prefeitura não foi tão endossado — o mandato de Haddad foi considerado o segundo pior da cidade, segundo o Datafolha. A campanha também ignorou erros na condução da Educação enquanto ele esteve à frente da administração municipal.

Vice e substituto. Em 2018, Haddad inicialmente foi registrado como vice na chapa do ex-presidente Lula. Com o líder petista preso e o registro de sua candidatura rejeitado, ele assumiu a cabeça da chapa, mas foi derrotado no segundo turno por Bolsonaro.

"Eu trabalho com a ideia de que o Haddad vai ser o governador de São Paulo. O Haddad está muito maduro, muito consciente", disse o líder petista em uma entrevista em fevereiro deste ano.

Na mesma ocasião, ele disse que esperava "compreensão" dos partidos políticos progressistas, como PSB e PSOL, para apoiar a candidatura do ex-prefeito. A resolução de palanque único em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, era prioridade para Lula.

Unificação. A campanha considera um mérito ter reunido as principais candidaturas de esquerda e centro-esquerda em torno de Lula e Haddad no estado. Guilherme Boulos (PSOL) abriu mão de se lançar candidato ao Palácio dos Bandeirantes para apoiar Haddad em março deste ano; o psolista e líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) candidatou-se a deputado federal e também assumiu a coordenação regional da campanha de Lula.

Com o PSB, as conversas foram mais difíceis. O ex-governador Márcio França (PSB) deu declarações de que não renunciaria a sua candidatura e o consenso só veio em julho, quando ele deixou a disputa para concorrer pela chapa ao Senado. Lúcia França (PSB), esposa dele, entrou como vice na chapa de Haddad, e Juliano Medeiros, presidente do PSOL, é seu primeiro suplente.

Com a desistência de França, a coligação de Haddad passou a ser formada por PT, PCdoB, PV, PSB, PSOL, Rede e Agir.

Alckmin, o cabo eleitoral. Apelidado de "o mais tucano dos petistas" no passado, Haddad participou de diversos eventos de campanha junto de Alckmin com objetivo de virar votos tucanos e diminuir a resistência ao PT no interior do estado, onde ele tem bom trânsito.

O trio formado por Haddad, Alckmin e França circulou unido em boa parte das agendas do PT no interior do estado a partir de setembro. Mesmo nos eventos em que Alckmin não compareceu, França esteve com Haddad.

Quem é Tarcísio de Freitas?
Nascido no Rio de Janeiro — fato explorado por seus adversários ao longo da campanha —, Tarcísio foi de um desconhecido técnico do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para um dos ministros mais populares do governo Bolsonaro. Militar da reserva formado pelo IME (Instituto Militar de Engenharia), é casado e tem dois filhos.

Missão do presidente. Ele deixou a pasta em março para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, a pedido do Bolsonaro. "Tarcísio está com aceitação muito boa em São Paulo, é sangue novo na política", disse o presidente naquele mês.

Filiação ao Republicanos e aliança com Kassab. A ideia inicial era que Tarcísio se filiasse ao PL, mesmo partido de Bolsonaro, mas as rusgas entre o ex-ministro e o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, pesaram contra e ele acabou indo para o Republicanos.

Tarcísio e Valdemar deixaram os desentendimentos no passado e buscaram uma aliança em São Paulo com Gilberto Kassab, presidente do PSD, o que acabou se concretizando: o ex-prefeito de São José dos Campos Felício Ramuth (PSD), que era cotado para o governo, deixou a disputa para formar chapa com Tarcísio. A coligação conta com Republicanos, PL, PSD, PTB, PSC e PMN.

Colado em Bolsonaro. No início da pré-campanha, Tarcísio exaltou sua experiência na gestão pública nos governos Dilma e Michel Temer (MDB). Ele se empenhou na estratégia de se descolar do presidente, cujos índices de rejeição são altos, e para atrair o eleitor não simpático aos extremismos do bolsonarismo.

Desde o fim de julho, no entanto, intensificou os elogios a Bolsonaro e as agendas ao lado do presidente. A lógica por trás desta decisão foi a de que a eleição em São Paulo se tornou polarizada por causa da influência da corrida presidencial.

Gafe e questionamentos. A candidatura do ex-ministro sofreu um pedido de impugnação em razão da ausência de comprovação do domicílio eleitoral em São Paulo. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostrou que Tarcísio não morava no endereço que declarou como seu domicílio eleitoral no estado.

Na ocasião, ele admitiu que não estava vivendo no local e que vinha mantendo base na capital, por causa do deslocamento constante. Em setembro, o TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) deferiu, por unanimidade, o pedido de registro de candidatura dele.

A campanha do candidato sofreu com a repercussão do ataque feito pelo deputado estadual bolsonarista Douglas Garcia (Republicanos) à jornalista Vera Magalhães após debate realizado pelo UOL em parceira com a Folha e a TV Cultura, em setembro. Garcia estava no local com uma credencial cedida pela campanha de Tarcísio.

Após o candidato se desculpar com a jornalista e dizer que "mal conhecia" o parlamentar, um vídeo dele pedindo votos para o deputado, que tenta uma vaga na Câmara, circulou nas redes sociais.

No fim de setembro, em entrevista a uma afiliada da TV Globo, a Vanguarda, Tarcísio não soube responder seu local de votação. Os episódios foram explorados pelos adversários, principalmente por Rodrigo, mas não foram suficientes para tirar Tarcísio do segundo turno.
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